Dra. Margareth Pandolfi – Doutora em Saúde Pública, Mestre em Odontopediatria, Especialista em Odontopediatria, Odontologia para Pacientes Especiais, Odontologia do Trabalho, Odontologia Legal e Educação em Saúde.

A COVID-19 é uma doença infeciosa que está associada ao vírus SARS-CoV-2 e a consequente pandemia de caráter mundial, que nos impôs um regime de Distanciamento Social, de Quarentena e, em muitos países, de Lockdown, no ano de 2020. Isso porque, a exemplo de muitas outras epidemias historicamente relatadas, a COVID-19 tem alta transmissão e certa letalidade. Após ela, muitos pensadores relatam que há que se falar em um novo-normal na vida diária. Com as limitações, o processo de trabalho, as atividades de lazer, as relações sociais e familiares, os hábitos e as práticas diárias mudaram. Mudanças essas que repercutiram na saúde, na saúde bucal e nos dentes.

Segundo pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com as Universidades Federal de Minas Gerais (UFMG) e com a Universidade de Campinas (UNICAMP), que ouviu aproximadamente 45 mil pessoas, os entrevistados têm grande dificuldade para lidar com a Pandemia. Depressão, baixa no estado de ânimo, alteração da rotina e sedentarismo levaram a piora dos hábitos dos brasileiros, denota-se claro que saúde e autocuidado fazem parte disso.

Dispor de todas capacidades para compreender e enfrentar uma pandemia não se apresenta uma tarefa fácil, não sendo incomum associar-se também stress e baixa imunidade com consequente aparecimento de lesões da mucosa bucal. O surgimento de aftas, gengivite, estomatites, herpes e outras lesões mais complexas podem ser comuns em períodos de transtornos como esse o qual enfrenta-se.

Mostra-se necessário ressaltar ainda os impactos ocorridos pelas medidas de mitigação – o “fique em casa” traz consequências à saúde e ao equilíbrio do corpo, pois além dos impactos acima não é de se estranhar ao ler muitos posts nas mídias sociais comentários sobre ganho de peso, comer com mais frequência e sobre consumo de guloseimas em excesso. Também não será incomum observar distúrbios e alterações do sono e da Articulação Tempomandibular (ATM) e bruxismo.

Baixa de imunidade, mudanças nos hábitos alimentares, consumo de guloseimas, sedentarismo e procrastinação dos hábitos de higiene é uma mistura perigosa para a saúde bucal. A consequente mudança da microbiota, o acúmulo de placa e a presença constante de açúcares estão relacionados ao aparecimento e progressão das lesões de cárie dentária e das doenças da gengiva. Isso reacende um alerta sobre a prática e regimes de cuidados diários, e saúde bucal é parte disso.

Assim sendo, se novas práticas de higiene como tirar os sapatos antes de entrar em casa, o que fazíamos em restaurantes japoneses, etiqueta respiratória, lavar as mãos com frequência e usar álcool gel foram incorporadas, não podemos esquecer de reforçar outros hábitos tão importantes como: escovar os dentes e usar fio dental sempre após as refeições. Em alguns casos e com prescrição do cirurgião dentista por vezes é preciso usar enxaguatórios bucais.

Para nós da Special Olympics e da Special Smiles há uma preocupação e um cuidado a mais, pois reconhecemos a pandemia como um momento para redobrar os cuidados e zelo pelos nossos atletas. Assim sendo, ficamos a nos perguntar como manter a rotina de cuidados considerando que os hábitos alimentares e a rotinas de cuidados deles também mudaram? Como manter o regime de cuidados se a pandemia também trouxe impactos em suas vidas?

Neste momento reiteramos nosso compromisso com nossos atletas e alertamos para a rotina de cuidados, bem como para o fato de que por si só são relatados na literatura alterações bucais associadas à COVID-19. O SARS-CoV-2 pode permanecer por alguns dias na orofaringe, no sangue e nas glândulas salivares. Por isso, tem sido relatada algumas alterações como: perda e diminuição do olfato e do paladar (GIACOMELLI et al., 2020). Erupções cutâneas e discretas petéquias na mucosa de palato, lábios e mucosa jugal também são relatadas até em crianças em idades precoces em um consenso espanhol (CASAS et al., 2020; PANDOLFI, 2020).

A recomendação da Special Olympics e da Special Smiles é “fique de olho”, pois é fundamental para o equilíbrio e saúde da boca: monitorar possíveis alterações bucais e os demais sintomas da COVID-19; manter a dieta equilibrada; consumir de forma inteligente o açúcar, isto somente após as refeições escovando os dentes logo a seguir; incorporar o consumo de alimentos protetores, duros e fibrosos como: maçã, banana, castanhas, queijos, etc.; consumir água com frequência; manter a rotina de cuidados de escovação e uso de fio dental. Em caso de necessidade, o cirurgião dentista é o profissional ideal para o cuidado.

É também importante lembrar os cuidados com a escova de dentes:

• Lavá-la em água corrente, escorrer o excesso de água e deixar secar em ambiente protegido (longe de germes);
• Não armazená-la em ambiente fechado;
• Trocá-la de três em três meses ou sempre que observar sua mudança de cor e forma;
• Sempre que observar qualquer sintoma relacionado a viroses, deve descartá-las de imediato.

Escovas são desenvolvidas conforme as fases de desenvolvimento da criança e conforme abertura, dimensão e anatomia da boca e dentes, e por isso devem ser prescritas e indicadas por um cirurgião dentista para favorecer a pega, adaptação e usabilidade. Fale com seu cirurgião dentista, ele saberá qual a melhor para você.

Dessa forma temos a certeza que muito em breve estaremos todos juntos em mais uma das muitas atividades da Special Olympics, a cuidar dos sorrisos especiais de atletas especiais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CASAS, C. G. et al. Atlas da classificação das manifestações cutâneas da COVID-19: um estudo restrospectivo. Consenso Espanhol com 375 casos. 2020.

GIACOMELLI, A. et al. Self-reported olfactory and taste disorders in SARS-CoV-2 patients: a cross-sectional study. Clin Infect Dis. Mar. 2020.

PANDOLFI, M. Alterações bucais na COVID-19. Review Odonto (on line), p. 19-27, jun., 2020.