O convidado desta vez é o Diretor do programa Atletas Saudáveis: Rodrigo Galvão Viana. Sua história na área oftalmológica começa mais ou menos há 20 anos, após a formação em Tecnologia Oftálmica na Escola Paulista de Medicina em 2000, foi durante dois anos bolsista CNPq no Núcleo de Propriedade Intelectual da UNIFESP.
No decorrer de sua trajetória como profissional, fez um MBA em Prática Oftalmológica no Instituto da Visão, e entrou no Instituto Verter em 2005, como Coordenador Técnico. Após se especializar no curso de Metodologia Científica, no Hospital Alemão Osvaldo Cruz, e cursar Gestão de Organizações de Terceiro Setor na Faculdade Getúlio Vargas, assumiu a função de Gestor de Responsabilidade Social e Pesquisa do Grupo HOlhos. Posteriormente, assumiu o mesmo cargo no Instituto Verter.
Como você se aproximou das OEB? E como foram seus caminhos na organização?
Fui convidado em 2008 pelo oftalmologista Prof. Dr. Marinho Scarpi e pela cirurgiã dentista Dra. Cynthia Savioli para ser voluntário na iniciativa Abrindo teus Olhos. Em 2009, durante os jogos de inverno de Idaho-EUA fui capacitado e voltei coordenando algumas ações oftalmológicas. Em 2012 assumi a iniciativa. Em 2016 fui convidado a coordenar todo o programa de saúde. Topei o desafio e, em 5 anos, conseguimos capacitar mais 120 diretores clínicos para fortalecer as iniciativas e, recentemente, uma grande conquista se concretizou, trouxemos a sétima área para o Brasil: “Mentes Fortes”.
O que te motiva a trabalhar com a causa inclusão? Você já tinha entrado em contato com o tema antes?
Sou alto míope e desde novinho uso óculos com lentes grossas, o qual quando cai ou quebra, deixa-me com visão muito abaixo do normal. Talvez um dos motivos que me fez estudar oftálmica na EPM-UNIFESP. Durante a faculdade, fiz estágios na Fundação Dorina Nowill, focada em deficiência visual, e na AACD, que desenvolvia atividades focadas na criança com deficiência. Tudo isso me fez entender melhor o que era exclusão. Comecei a ser voluntario de Mutirões oftalmológicos da UNIFESP para pacientes com diabetes e catarata. Muitos já chegavam praticamente cegos. E todas essas experiências me motivaram e me fazem acreditar que todos devemos nos empenhar em ter um mundo mais igualado possível, com inclusão e compartilhamento de conhecimento contínuo.
Pode contar um pouco sobre o Atletas Saudáveis?
É um programa fantástico que visa melhorar políticas públicas na área da saúde voltada a pessoas com deficiência intelectual. No Brasil, iniciou há 25 anos, em 1996, com profissionais que foram pioneiros na implementação de iniciativas médicas no Brasil. Triagens e avaliações são realizadas durante eventos esportivos ou em situações criadas apenas para a avaliação médica dos atletas. Todos os dados são computados em um prontuário eletrônico internacional e assim, os voluntários podem estudar os dados, desenvolver e publicar pesquisas que contribuam com melhorias na assistência médica ao DI. Atualmente, há 7 áreas no Programa: Abrindo teus Olhos que é relacionada à saúde ocular e, inclusive, tem parcerias para doação de óculos; Sorrisos Especiais que cuida da saúde bucal e odontológica; Audição Saudável, focada principalmente nas questões audiológicas; Pés Legais, que envolve avaliações ortopédicas; Promoção de Saúde é a iniciativa a qual os atletas recebem orientações sobre nutrição, proteção solar, hidratação, e bons hábitos de saúde; Funfitness é a parte de fisioterapia do programa; e a mais recente é a Mentes Fortes que cuida da saúde mental dos Atletas e, nessa pandemia, também tem contribuído com atividades virtuais voltadas a todos os voluntários das OEB.
Quais foram as situações mais desafiadoras que você já viveu em sua trajetória nas OEB?
Acho que realizar os eventos de 2009 e 2010 com o Abrindo teus Olhos, atendendo mais de 400 atletas, somando os eventos no SC Corinthians Paulista e no Clube Atlético Indiano, ainda com poucos voluntários e um tanto de falta de conhecimento sobre como funcionavam as parcerias em Abrindo teus Olhos foi uma. Posteriormente, já como Diretor Nacional de AS (Atletas Saudáveis), planejar, juntamente com os líderes das iniciativas, realizar as capacitações em Recife e Belo Horizonte, as quais tinham cerca de 65 novos profissionais entrando no programa.
E quais foram os momentos mais gratificantes?
Aí foram muitos. Lembro-me de alguns finais de eventos, já cansados, sentindo a sensação de dever cumprido, após muitas intercorrências, víamos os atletas com seus óculos escuros, felizes e sorridentes. Alguns abraços recebidos foram fundamentais para perceber o quanto nós ganhamos em ter a oportunidade de estar próximos de pessoas tão verdadeiramente especiais. Gratificante também foi a oportunidade de participar da Academia de Liderança a convite do nosso presidente, George Millard. E, talvez o mais forte, foi a minha primeira entrega de óculos a atletas que precisavam de correção. Um atleta de futebol colocou seus óculos e olhou para seu pai de uma forma diferente, depois olhou para a mãe e passou a mão no rosto dela. Me veio a recordação do trecho do livro Manuelzão e Miguilim, de [João] Guimarães Rosa, quando o Dr. José Lourenço dá os óculos a Miguilim e ele descreve a mãe de forma diferente. Foi muito parecida a situação. Nosso atleta, talvez estivesse enxergando seus pais, amigos e técnicos. Pela primeira vez. Ali foi mais uma certeza que sempre valeu a pena cada prova, cada desafio acadêmico e a formação que escolhi para minha vida.
As OEB te trouxeram aprendizados? Qual foi o maior deles?
Muitos. Conhecimento nunca é demais. Não devemos confundir humildade com humilhação, e ter muito orgulho atrapalha o aprendizado. Aprender com quem você menos espera poder compartilhar algo é constante nas OEB. Aprendi a nunca menosprezar a capacidade de alguém. Aprendi que a esperança nunca morre. A ideia de um mundo melhor fica viva a cada experiência com os atletas. Um mundo sem maldade, sem rancor, mágoa, com uma inocência saudável e sempre em espírito de time, comunidade e amor.
Para você, o que significa um mundo com mais inclusão?
Significa o mundo que deve ser visto como o normal, que se preocupa mais com o coletivo do que com o individual que tem mais foco em utilizar energia emocional útil do que desprender energia na segregação. Um mundo mais inteligente e feliz.