O Guia da Atividade Física para a População Brasileira é o primeiro documento, criado pelo Ministério da Saúde, que tem como objetivo diminuir os níveis de inatividade da população. Com recomendações e informações sobre atividade física para que a população tenha uma vida ativa, o material é uma das iniciativas que visa promover a saúde e a melhoria da qualidade de vida.
Neste Guia, a atividade física é abordada em todos os ciclos de vida – crianças, adolescentes, adultos e idosos, – em algumas condições – gestantes e pessoas com deficiência –, além do destaque para a Educação Física Escolar. Também são esclarecidos alguns conceitos importantes como o de atividade física e de seus domínios, o de exercício físico e o de comportamento sedentário.
Para contar mais para as Olimpíadas Especiais Brasil sobre o Guia, convidamos a Fabiana Vieira Santos Azevedo Cavalcante, Coordenadora-Geral da Coordenação-Geral de Promoção de Atividade Física e Ações Intersetoriais (CGPROFI/DEPROS/SAPS/MS) e Diretora Substituta do Departamento de Promoção da Saúde (DEPROS/SAPS/MS). Ela respondeu algumas dúvidas e perguntas de nossas equipes!
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1. O que motivou a criação desta edição do Guia da Atividade Física?
As prevalências de inatividade física, no Brasil e no mundo, são crescentes e preocupantes, sendo necessário o enfrentamento dos diferentes fatores que contribuem para esse cenário, como a dificuldade por parte dos usuários de acesso a espaços adequados, serviços, e profissionais que oferecem a prática de atividade física de forma gratuita e qualificada.
Sabe-se que 27,5% da população mundial não atende às recomendações de atividade física (≥ 150 miutos de atividade física moderada/vigorosa por semana) para benefícios à saúde (GUTHOLD et al., 2018). As consequências da inatividade física estão relacionadas não somente às maiores taxas de mortalidade por todos os tipos de doenças (DING et al., 2016; OJA et al., 2017), mas também aos custos à saúde pública devido a intervenções cirúrgicas, farmacológicas, laboratoriais e pronto-atendimentos (BIELEMANN et al., 2015; DING et al., 2016). O Brasil é um dos países com maior prevalência de inatividade física da América Latina e Caribe (47% comparado a 21,6% de Dominica, país com a menor prevalência de inatividade física da região) (GUTHOLD et al., 2018). De acordo com dados recentes do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), 47,2% dos adultos com mais de 18 anos e residentes nas capitais e no Distrito Federal são insuficientemente ativos (BRASIL, 2021a). A inatividade física no país é responsável por 12% das mortes e incapacidades, ajustados para anos de vida, por câncer de mama comparado a outros fatores de risco modificáveis (5%) (SILVA et al., 2018). Além disso, aproximadamente 3% das mortes por diabetes mellitus poderiam ser evitadas se a população brasileira fosse fisicamente ativa (SILVA et al., 2019). Ademais, o elevado tempo em atividades na posição sentada, no tempo livre, na escola, no trabalho e para o deslocamento (por meio de carros, ônibus, metrôs e trens), contribui para maiores riscos à saúde, por decorrência do comportamento sedentário (PATTERSON et al., 2018; GONZALEZ et al., 2017). Com isso, o uso constante de telas (computador, celular, tablet, televisão, videogame) está associado negativamente com comportamentos pouco ativos (PATTERSON et al., 2018). Consequentemente, os altos percentuais de inatividade física e de comportamento sedentário, combinados, aumentam a incidência e a prevalência de DCNT.
Diante desse cenário e considerando que o Brasil não possuía, até 2021, orientações do Ministério da Saúde (MS) para a prática de atividade física e que é urgente a necessidade de aumentarmos a prevalência de atividade física na população brasileira, em 06/2021 foi lançado o Guia de Atividade Física para a População Brasileira (BRASIL, 2021b) com as primeiras recomendações e informações do MS sobre atividade física para que a população tenha uma vida mais ativa fisicamente, com mais saúde e qualidade de vida.
O documento é dividido em oito capítulos que contemplam conceitos relacionados à atividade física e a atividade física em todos os ciclos de vida e em algumas condições específicas: Capítulo 1 – Entendendo Atividade Física; Capítulo 2 – Atividade Física para Crianças até 5 anos; Capítulo 3 – Atividade Física para Crianças e Jovens de 6 a 17 anos; Capítulo 4 – Atividade Física para Adultos; Capítulo 5 – Atividade Física para Idosos; Capítulo 6 – Educação Física Escolar; Capítulo 7 – Atividade Física para Gestantes e Mulheres Pós-Parto; e Capítulo 8 – Atividade Física para Pessoas com Deficiência (BRASIL, 2021b).
O Guia foi desenvolvido com uma linguagem simples, direta e de fácil entendimento para que toda a população acesse as recomendações de atividade física e tenham uma vida mais ativa!
2. Normalmente, nós confundimos atividade física com exercício físico. Como é possível fazer essa separação?
A atividade física é um comportamento que envolve os movimentos voluntários do corpo, com gasto de energia acima do nível de repouso, promovendo interações sociais e com o ambiente, podendo acontecer no tempo livre, no deslocamento, no trabalho ou estudo e nas tarefas domésticas.
São exemplos de atividade física: caminhar, correr, pedalar, brincar, subir escadas, carregar objetos, dançar, limpar a casa, passear com animais de estimação, cultivar a terra, cuidar do quintal, praticar esportes, lutas, ginásticas, yoga, entre outros.
Você pode fazer atividade física em quatro domínios da sua vida: no seu tempo livre; quando você se desloca; nas atividades do trabalho ou dos estudos; e nas tarefas domésticas:
– A atividade física no tempo livre é feita no seu tempo disponível ou no lazer, baseada em preferências e oportunidades;
– A atividade física no deslocamento é feita como forma de deslocamento ativo para ir de um lugar a outro;
– A atividade física no trabalho ou estudo é feita no trabalho e em atividades educacionais, para desempenhar suas funções laborais ou de estudo;
– A atividade física nas tarefas domésticas é feita para o cuidado do lar e da família.
Já o exercício físico é um tipo de atividade física planejada, estruturada e repetitiva que tem o objetivo de melhorar ou manter as capacidades físicas e o peso adequado. O seja, todo exercício físico é uma atividade física, mas nem toda atividade física é um exercício físico.
3. Como é possível trabalhar a inclusão por meio da atividade física?
A atividade física faz parte do dia a dia e traz diversos benefícios, como o controle do peso e a melhora da qualidade de vida, do humor, da disposição, da interação com as outras pessoas e com o ambiente. Os momentos com a família e os amigos também podem ser oportunidades para fazer atividade física, como praticar esportes, passear com o animal de estimação, passear de bicicleta e fazer atividades na natureza, promovendo a inclusão de todas as pessoas.
É importante ressaltar que a atividade física pode e deve ser praticada independentemente da deficiência. Apesar de algumas dificuldades vivenciadas, é preciso encontrar formas de praticar atividade física, seja em atividades individualizadas, que consideram as especificidades de cada pessoa, ou em atividades em grupo, que proporcionam a socialização e interação. Seguem também outros benefícios que a atividade física proporciona para as pessoas com deficiência:
- Promove o seu desenvolvimento humano e bem-estar, ajudando a desfrutar de uma vida plena com melhor qualidade;
- Aumenta sua autonomia para realização das atividades diárias;
- Promove relaxamento, divertimento e disposição;
- Aumenta a força muscular, a resistência, a coordenação motora, o equilíbrio, a flexibilidade e a agilidade;
- Melhora suas habilidades de socialização;
- Ajuda na inclusão social, e na criação e fortalecimento de laços sociais, vínculos e solidariedade;
- Auxilia no seu controle do peso adequado e na diminuição do risco de obesidade;
- Melhora sua imunidade;
- Melhora sua atenção, sua memória e seu raciocínio, assim como reduz o risco de declínio cognitivo;
- Melhora seu humor, e reduz a sensação de estresse e os sintomas de ansiedade e de depressão;
- Melhora a circulação sanguínea e diminui o risco de doenças do coração, diabetes (alto nível de açúcar no sangue), pressão alta e colesterol alto.
Destacamos também que a prática de atividade física deve ser adaptada para que seja confortável e segura para cada pessoa. Além disso, é necessário respeitar os limites de cada um.
Todas as pessoas devem incentivar, estimular e deixar que as pessoas com deficiência explorem o ambiente como desejarem, não criando dificuldades para que eles façam atividade física em casa, no trabalho, escola ou nas ruas. Todos devem também ajudar quem está sob seus cuidados a praticar atividade física e escutar seus anseios, medos, e angústias e também as suas preferências, habilidades e necessidades. Essa atitude pode ser o início de uma transformação para uma vida ativa e contribuir para sua inserção na sociedade.
Com relação à educação física escolar, é essencial também que os pais/responsáveis, a escola e os professores incentivem que os estudantes com deficiência participem ativamente das aulas de educação física. Busque apoio das escolas para que suas estruturas ofereçam boas condições e acessibilidade para as pessoas com deficiência. Se você é um gestor, priorize a acessibilidade. É importante que a acessibilidade arquitetônica, de sinalização e informação nos transportes, nas ruas e nos estabelecimentos de saúde sejam priorizadas.
4. Nossos atletas estão sempre treinando e competindo, mas como eles conseguem convencer os familiares inativos a começarem a terem uma vida menos sedentária?
Quem já pratica atividade física, deve incentivar e convidar seus amigos e familiares a realizarem atividades físicas com eles. Por exemplo, a maioria dos esportes e jogos é feita com companhia! Aproveite para chamar os amigos, familiares, vizinhos ou seus colegas de trabalho!
Os momentos da família reunida também podem ser uma oportunidade para fazer atividade física, como praticar esportes, passear com o animal de estimação, passear de bicicleta e fazer atividades na natureza. Ou nas tarefas domésticas, tendo a ajuda uns dos outros, seja lavando a louça, retirando o lixo, contribuindo com a limpeza ou cozinhando.
Os colegas de trabalho também podem ser uma boa companhia para aumentar a atividade física no deslocamento ativo, no próprio trabalho ou no tempo livre. Uma caminhada é sempre bem-vinda para ser ativo no seu dia.
As pessoas ativas fisicamente também podem lembrar seus amigos e familiares que, se eles ainda não alcançam as recomendações de quantidade de tempo para a prática de atividade
física, eles não devem desistir e sim aumentar aos poucos a quantidade e a intensidade das atividades físicas, sempre tendo em mente que fazer qualquer atividade física, no tempo e no lugar em que for possível, é melhor que não fazer nada. Também podem reforçar que nunca é tarde para começar e que as pessoas que estão iniciando a prática de atividade física devem experimentar diferentes tipos de atividade física para encontrar aquelas de que mais gostam.
Eles também podem juntos procurar as opções de atividades físicas que a sua escola, o seu trabalho ou o seu município oferecem: veja se há praças, quadras e parques próximos, polos do Programa Academia da Saúde, Unidades Básicas de Saúde ou escolinhas de esportes. Busquem também e se informar nas redes sociais sobre grupos que pratiquem atividade física.
5. Quais serviços públicos podemos procurar para auxiliar na atividade física?
Existem diversos serviços públicos que ofertam ações de atividade física. A população deve procurar essas locais nos municípios para receberem mais informações sobre as ofertas de atividade física, sendo eles:
– Programa Academia da Saúde: estratégia de promoção da saúde e produção do cuidado que funciona com a implantação de espaços públicos conhecidos como polos onde são ofertadas práticas de atividades físicas para população. Esses polos fazem parte da rede de Atenção Primária à Saúde e são dotados de infraestrutura, equipamentos e profissionais qualificados. Para saber mais acesse: https://aps.saude.gov.br/ape/academia;
– Programa Saúde na Escola: parceria entre as Secretarias Municipais de Saúde e de Educação para a realização de diversas ações de saúde, entre elas a promoção da atividade físicas. Esta presente em 97% dos municípios brasileiros. Para saber mais acesse: https://aps.saude.gov.br/ape/pse;
– Programa Segundo Tempo: atende jovens com idades entre 6 a 17 anos, prioritariamente de áreas de vulnerabilidade social e matriculadas na rede pública de ensino. A iniciativa oferece práticas esportivas orientadas. Cada beneficiado pode praticar até duas modalidades coletivas e uma individual no contraturno escolar, num total de até 6h por semana. Para a realização das atividades, são firmadas parcerias com governos estaduais e municipais por meio de editais e emendas parlamentares. Para saber mais acesse: https://www.gov.br/cidadania/pt-br/acoes-e-programas/segundo-tempo/programa-segundo-tempo;
– Programa Esporte e Lazer na Cidade: proporciona a prática de atividades físicas, culturais e de lazer que envolvem todas as faixas etárias e pessoas com deficiência. O Programa se desenvolve a partir da instalação de núcleos em regiões urbanas, rurais, povos e comunidades e povos tradicionais e indígenas. Para saber mais: https://www.gov.br/cidadania/pt-br/acoes-e-programas/outros/pelc;
– Unidades Básicas de Saúde;
– Escolas de ensino básico: através da oferta da educação física escolar e de outras atividades físicas;
– Centro Olímpicos, paralímpicos ou de paradesporto;
– Universidades públicas;
– Instituições do sistema S (SESC, SESI, SEST/SENAT e SENAC).
Adicionalmente, o MS recomenda que a população procure as Unidades Básicas de Saúde e as escolas, em especial o professor de educação física, para saberem sobre demais ofertas de atividade física no município.
Referências:
GUTHOLD, R.; STEVENS, G. A.; RILEY, L. M.; et al. Worldwide trends in insufficient physical activity from 2001 to 2016: a pooled analysis of 358 population-based surveys with 1·9 million participants. The Lancet, v. 6, n. 10, 2018.
DING, D. et al. The economic burden of physical inactivity: a global analysis of major non-communicable diseases. The Lancet, v. 388, n. 10051, p. 1311–1324, 2016.
OJA, P.; et al. Associations of specific types of sports and exercise with all-cause and cardiovascular-disease mortality: a cohort study of 80 306 British adults. British Journal of Sports Medicine, v. 51, n. 10, p. 812–817, 2017.
BIELEMANN, R. M. et al. Burden of physical inactivity and hospitalization costs due to chronic diseases. Revista de Saúde Pública, v. 49, 2015.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Vigitel Brasil 2020: Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico. Brasília: Ministério da Saúde, 2021a.
SILVA, D. A. S. et al. Mortality and years of life lost due to breast cancer attributable to physical inactivity in the Brazilian female population (1990–2015). Scientific Reports, v. 8, n. 1, p. 11141, dez. 2018.
SILVA, D. A. S. et al. Physical inactivity as risk factor for mortality by diabetes mellitus in Brazil in 1990, 2006, and 2016. Diabetology & Metabolic Syndrome, v. 11, n. 1, p. 23, dez. 2019.
PATTERSON, R.; et al. Sedentary behaviour and risk of all-cause, cardiovascular and cancer mortality, and incident type 2 diabetes: a systematic review and dose response meta-analysis. Eur J Epidemiol. v. 33, n. 9, p. 811-829, 2018.
GONZÁLEZ, K.; FUENTES, J.; MÁRQUEZ, J. L. Physical Inactivity, Sedentary Behavior and Chronic Diseases. Korean Journal of Family Medicine, v. 38, n. 3, p.111–115, 2017.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Promoção da Saúde. Guia de Atividade Física para a População Brasileira. Brasília : Ministério da Saúde, 2021.